sexta-feira, 5 de março de 2010

Respostas d@s Feminist@s 100 Fronteiras às questões do Jornal Meios & Publicidade

1. Gostaria de ter a vossa opinião sobre a actual campanha publicitária da Super Bock Stout.

Consideramos a campanha publicitária da Super Bock Stout extremamente sexista e até boçal.

2. O que vos motivou a fazer eco desta crítica no blog? Têm como objectivo fazer pressão para a suspensão da campanha?
Como deverá calcular, até pelo nome do nosso blog, estamos constantemente à alerta sobre as questões de género, sejam boas ou más. O sexismo, quer o mais subtil ou mais flagrante, é uma questão muito má que fazemos questão de apontar no Blog Feministas 100 Fronteiras sempre que acharmos necessário.
No caso da campanha da cerveja super bock stout, quisemos mostrar o nosso desagrado. Algumas de nós tanto no blog Feministas sem Fronteiras, como aderindo ao grupo do facebook Stout is Out, porque nos parece que recuaram claramente ao que, em Psicologia Social, se designa “velho sexismo” ou “sexismo hostil”, com tudo o que isso implica. Ou seja, há um tratamento desigual entre os sexos, sendo prejudicial às mulheres, uma vez que são percebidas como inferiores aos homens. Este anúncio ainda nos parece mais degradante do que os que surgiram nos anos 60, carregados de estereótipos, em que as mulheres surgiam sempre associadas à esfera privada (às tarefas domesticas e ao cuidados das crianças, verdadeiras fadas do lar!) e os homens à esfera pública, que também deviam ser cuidados quando voltassem a casa. Nesta campanha super bock stout são passadas várias mensagens, consoante se trate do spot publicitário ou do cartaz. Neste, basicamente, reduzem as mulheres ao seu corpo e este a um objecto de consumo, confundido com a cerveja. Note-se que a cabeça e as pernas dela nem são necessárias. E há um trocadilho grotesco entre a cerveja e a mulher quando referem que é “de abertura fácil”! No spot há a tal hierarquia abismal entre homens e mulheres, onde elas existem apenas para servir os homens, para lhes proporcionar prazer.
Por tudo isto e muito mais, sim, o nosso objectivo foi demonstrar o nosso descontentamento e contribuir para pressionar a suspensão da campanha. Este tipo de sexismo é extremamente ofensivo. A utilização do corpo das mulheres na publicidade tem servido para tudo, desde apresentar bebidas a apresentar as rolhas da garrafa. Será que tudo gira mesmo em torno do corpo e do sexo?!

3. Qual a vossa opinião sobre o movimento de indignação que se gerou no Facebook com o grupo Stout is Out?

Como é óbvio, somos totalmente a favor. Aliás, aderimos ao grupo desde o seu início. Enquanto cidadãs e cidadãos que somos, estamos, por esta via, a demonstrar o nosso descontentamento e indignação, por ainda existirem mentes destas em pleno século XXI...parece que andamos a regredir em vez de evoluir!.Aliás, este movimento de indignação que começou na Internet vai formalizar-se com uma queixa às entidades competentes, a qual está a ser elaborada por várias pessoas e várias associações de promoção da igualdade de género.

4.Consideram que uma campanha de comunicação publicitária é suficientemente relevante para gerar uma onda de indignação?

Sim, obviamente, embora tenhamos a noção de que apenas o nosso blog não basta. As campanhas de comunicação publicitárias são instrumentos poderosíssimos, vistos por milhares de pessoas e os/as estudiosos/as do consumo ou de marketing sabem-no. Caso contrário não investiam tanto dinheiro na sua realização. Toda a gente, minimamente informada, sabe isso. Usado desta forma, serve para manter o status quo. Por isso estamos indignadas. É enervante, sobretudo sabendo que são pessoas informadas (?) que estão por detrás daquelas campanhas! Seria desejável que aproveitassem essa fonte informação/ influência para desempenhar um papel mais activo no sentido de mudar a sociedade para melhor e não o inverso, perpetuando estereótipos! Mas como, efectivamente, não devem ser obrigados a prestar serviço público, pensamos que é importante que, deste lado, continuemos a criar grupos de pressão, para lhe mostrar o nosso descontentamento!
Este tipo de esterotipização e de subordinação violenta e humilhante, felizmente, já não é aceitável em relação a outros grupos historicamente discriminados (homossexuais, pessoas não caucasianas...), mas, estranhamente continua a ser e até promovido em relação as mulheres. Estamos convencidas que, se um anúncio caracterizando racialmente os indivíduos fosse para o ar, a maioria da população e os responsáveis pela regulação desta área não consentiriam a sua difusão e a condenação seria expedita.

5. Ficaram surpreendidas por verem aderir ao movimento tantos elementos do sexo masculino?

Enquanto frequentadoras do facebook, não, não ficámos surpreendidas. Já há muitos homens feministas. Ao contrário do que geralmente se diz, o feminismo não é uma coisa só das mulheres, há homens feministas, e cada vez mais, felizmente. Pensamos aliás, que essa foi mais um dos erros da campanha. Já há muitos homens que não se revêem entre o público-alvo deste tipo de anúncios e que também consideram deplorável o que estes representam. Até porque vejamos...de alguma forma, também os homens são discriminados neste anuncio...só vemos a imagem de alguns homens descerebrados que só vêm cerveja, mulheres e futebol à sua frente....redutor da essência masculina, não?!
Outro aspecto interessante e que no nosso entender merece uma análise é o facto de os responsáveis da Super Bock terem referido que os seus produtos se destinam exclusivamente a um público masculino e heterossexual. Afinal, reduzem os consumidores e consumidoras a um público muito específico, concretizando também nesta resposta mais uma discriminação.

6. Será que a indignação não é um pau de dois bicos? Além de se fazer com que a campanha tenha mais importância do que aquela que de facto tem, já que é assumida como uma brincadeira publicitária, acaba por se dar mais visibilidade com todo o burburinho que se gera nas redes sociais. Como comentam isto?

Pode ser, mas não devemos, nem podemos ficar caladas! É uma questão de cidadania e de luta por direitos iguais, tão simples como isso. Por outro lado, não nos parece que agrade muito à super bock este tipo de visibilidade!

7. Recentemente surgiu também uma onda de protestos por causa de um anúncio a cerveja brasileira com a Paris Hilton por apelar ao sexo (coloco o link abaixo). Estaremos a indignar-nos demais e a fazer voltar um certo pudor que já estaria ultrapassado?

Como já tivemos a ocasião de dizer, não se trata de “pudor”. Trata-se de discriminação e menorização das mulheres (que, ainda por cima, no caso acima, também consumem esta cerveja). Em termos práticos (e como a simetria de género nos parece quase uma utopia na sociedade portuguesa) nem nos incomodaria que, por vezes, recorressem ao corpo e ao desejo nos spots (de forma inteligente e com limites, é claro) se tivessem cuidado e respeito pelas pessoas, realizando, por exemplo, 2 vídeos exactamente equivalentes, um com homens outro com mulheres, direccionados ao público masculino e feminino. Seria desejável que começassem a revelar algum respeito pelas mulheres, mais de metade da população portuguesa, que, aliás, também são consumidoras.
Aliás, o vídeo é por si só é degradante. Primeiro porque recorre à posição redutora da mulher para se vender um produto, e depois porque faz uma bizarra associação de palavras entre "a mulher" e a palavra "devassa" ! É arrepiante!

8. Qual a vossa opinião sobre o sexismo na publicidade? Em que ponto estamos a esse nível?

Parece que actualmente na publicidade, vale tudo. Até mesmo regredir na sociedade ao ponto de voltar a colocar a "mulher" numa posição hierarquicamente submissa, como se de uma ‘alcateia’ se tratasse. É quase como, se para vender um produto fosse necessário regredir...para nós é um atestado de estupidez a todos os consumidores e consumidoras inteligentes que existem. A questão não é a utilização do sexo, do corpo, quer seja de uma mulher ou de um homem...tal como já dissemos, é a utilização destes de forma degradante e abusiva. Portanto, concluindo podemos afirmar que em pleno século XXI ainda assistimos a um sexismo flagrante nos anúncios publicitários como noutras industrias culturais de massa, sendo que este tratamento discriminatório tem sido estudado por diversos investigadores e investigadoras no contexto português. O que mais nos revolta é o facto de os media terem um forte poder na sociedade e continuarem a perpetuação de estereótipos de género, em vez de os desconstruir. Afinal, todas as empresas devem ter responsabilidade social!

1 comentário:

Maria Helena Santos disse...

Obrigada Patrícia.

Desta vez, foste mais rápida do que eu ;o)
Pedi ao jornalista p nos enviar o artigo, mas ainda n m disse nada!
Bjs