quinta-feira, 20 de maio de 2010

"O género é o que está a dar"!?

Não vou gastar mais do meu tempo com a crónica da Helena Matos, assim designada, que copiei do Jornal Público de hoje, até porque a minha colega e amiga Sofia Neves já lhe respondeu devidamente no seu blog: A PIDE do Género

Mas fiz questão de divulgá-la aqui na íntegra, porque julgo que no século XXI é importante que as/os titis do género andem mais bem informadas/os do que a titi da obra de Eça de Queirós!


Diz Helena Matos
“O género está para os dias de hoje como o pecado para a titi de A Relíquia queirosiana. A dita senhora via pecado em todo o lado e quase não perdoava ao Deus que tanto adorava ter dividido a humanidade em homens e mulheres, dualidade que estava na origem de todo o mal, segundo a mesma devota e riquíssima senhora. As novas titis não são proprietárias de meia Lisboa como era a titi de A Relíquia, mas também não vivem mal. Constituem um grupo profissional em franco progresso e bem estabelecido na vida, pois ninguém ousa questionar os seus cargos já que se tal acontece eles logo lançam a excomunhão do reaccionarismo, do preconceito e doutras coisas nefandas sobre quem os questiona.
As novas titis dedicam-se às questões de género com o mesmo zelo que a pretérita titi dedicava ao pecado. Digamos que em cada época as respectivas titis procuram erradicar o que definem como pecado, definição essa que para nossa desgraça invariavelmente cai nos nossos corpos. Assim, antes as titis eram beatas e não se lhes podia falar de sexo. Agora são especialistas em questões de género e só se pode falar do sexo como elas determinam: de preferência numa terminologia epicena, sem masculinos nem femininos; com progenitores em vez de pais e de mães; pessoas no lugar de homens e mulheres...
Enfim, é disparate, mas é um disparate muito rentável: as faculdades encheram-se de especialistas de género que viajam para congressos sobre questões de género, onde fazem intervenções sobre género. Voltam de lá invariavelmente a dizer que temos de investir mais meios nas questões de género, intervir mais na vida das empresas, das famílias, das escolas e de tudo o que existe para eliminar as discriminações, a homofobia, o sexismo... e assim ininterruptamente vão aumentando o número de funcionários afectos às questões de género. Os partidos muito sensíveis “ao que está a dar” acham que devem falar sobre o género e ter deputados que fazem do género não só a sua temática preferencial como fazem do seu próprio género, ausência dele ou mudança dele o seu cartão-de-visita, quando não o seu currículo. Aliás, os parlamentos, associações e partidos ostentam hoje fulano que assume ser homossexual e cicrano transexual com o mesmo garbo exótico com que nas exposições coloniais de outrora se exibiam os chefes tribais africanos com as suas várias mulheres.
Presumo que o género e toda a literatura que tem produzido deve dentro de alguns anos
repousar no mesmo embaraçoso limbo onde pairam os milhares de estudos sobre a alternativa terceiro-mundista ao capitalismo ou as profundíssimas teorizações sobre a relação da psicanálise com a luta de classes, mas até lá, e tal como aconteceu com as anteriores temáticas, a questão do género mantém activa e devidamente sustentada esta legião de neotitis.
E note-se que ainda vamos ter saudades da conversa do género porque, apesar de tudo, o género ou a falta dele ainda é um assunto da vida. Ora, como tudo indica que a morte, ou mais propriamente a eutanásia, é a causa de avanço civilizacional que se segue, não é difícil perceber por que ainda nos vão parecer felizes estes dias de hoje em que andávamos às voltas com as titis enquanto funcionárias do género.” (Jornal Público, 20 de Maio, 2010, p. 41)

3 comentários:

Nan disse...

Helena Matos é completamente tonta. Infelizmente, os tontos encontram sempre outros tontos que lhes dão ouvidos. C'est la vie...

Maria Helena Santos disse...

Pois, o problema é esse :o(
Mas, apesar de tudo, parece-me que, neste caso, ela foi longe demais, parece uma espécie de ajuste de contas!

Anónimo disse...

É consternador e humilhante que alguém apregoe que, aqueles/as que vivem lutando por uma sociedade mais justa, com igualdade de direitos e sem violência, são "titis" com um negócio rentável.
Felizmente, existem pessoas que apoiam estas "titis do género", atribuindo-lhe todo o respeito que merecem, por elevarem o Direito do Respeito Humano e da Igualdade tão alto, como nunca antes.

Vera Silva
ISMAI