segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Um filme verdadeiramente chocante!

O filme «A Vénus Negra» de Abdellatif Kechiche trata das questões de exploração sexual e de racismo flagrante.

A cena passa-se no início do século XIX e relata a vida de uma mulher - Saartjie Bartman (1789-1815), muito bem interpretada pela actriz Yahima Torres - que foi trazida da África do Sul para a Europa, onde foi explorada pelo “patrão”, Caesar, de forma inqualificável. Começou por se tornar numa atracção circense (aparentemente consentida), onde a multidão pagava para ver a “aberração” e para tocar as nádegas avantajadas desta “selvagem Vénus hotentote”. Depois, foi vendida a um domador de animais francês que também a explorou, obrigando-a a participar em shows eróticos e a prostituir-se.

Devo dizer que fiquei horrorizada! Inevitavelmente, a dada altura senti-me mais uma daquelas pessoas que assistiam ao seu espectáculo e cheguei a arrepender-me de ter ido ver o filme. Achei o filme pesado, com cenas longas e demasiado repetitivas, de uma violência atroz. Mas resisti (ao contrário de algumas pessoas), porque, se é verdade que, por vezes, dói ver a realidade, também é verdade que dói ainda mais à vítima. Por isso, concordo que é preciso demonstrá-la desta forma, nua e crua, para vermos claramente do que é que somos capazes, mas sobretudo para que nunca mais se repita!

A questão central é "até onde vai a curiosidade e a exploração humana perante algo ou alguém considerado fora dos padrões?".

Embora o episódio se passe no início do século XIX, a curiosidade por conhecer a sua anatomia também chegou à classe científica que investigou o seu corpo e, mais tarde, colocou os seus restos mortais num museu, onde permaneceram como uma atracção até século XX (1974)!

E actualmente já não há “shows de horrores” nas ruas, mas a exploração persiste na Internet.


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